terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Lunático

Sempre que apareces assim, em teu esplendor pleno, em tua beleza radiante, sinto que fico ensandecido. Tento, em vão, desviar o meu olhar, mas algo em ti me hipnotiza e volto a te contemplar, extasiado.

Sei que jamais serás minha, mas ainda assim sonho em ter-te só para mim. E faço de conta que não sei que derramas teu charme para todo e qualquer homem, até mesmo para os que não te dão atenção. Apesar de tudo, não tenho ciúme. Eu me conformo, desde que eu sinta que, em meio à multidão de admiradores e apaixonados, tu me percebes.

Tu sabes, como ninguém, cultivar essa aura de mistério - convidativa e distante ao mesmo tempo, por vezes, exibida ou tímida, sensual ou fria - o que te torna mais sedutora ainda.

Faço de conta que não existes, mas ao primeiro sinal de tua aparição, todo o meu ser se altera. Pra ser sincero, já me dei conta que, desde a véspera, entro num estado de expectativa e excitação, como se a intuição colocasse todo o corpo em estado de alerta. Fico sensível, agitado, inundado de desejos.

Tento me esquecer de ti, dessa paixão impossível, mas logo descubro tratar-se, na realidade, de um amor incurável. Às vezes me aborreço por teres um efeito tão intenso sobre mim, como se eu não conseguisse me controlar. “Quem ela pensa que é ?”

E quando resolves brincar de esconde-esconde, fugindo de mim por detrás de árvores, prédios, nuvens ? ... Atiças meu desejo e reafirmas que és livre, segues teu próprio ciclo e que ninguém te controla. Que posso fazer ?

Quando vais embora sem me avisar, fico magoado, furioso e indignado com tua falta de consideração... Mas já me acostumei a teus hábitos e aceitei as condições que estabeleceste para o nosso relacionamento. Que posso fazer ?

Mas essa indignação desaparece assim que ergo os olhos e descubro que tu, Lua Cheia, estás a iluminar o céu da Terra e do meu coração, também. Pena que demoras 28 dias para regressar e trazer de volta a minha inspiração.

sábado, 24 de outubro de 2009

Viagem

Hoje vou iniciar uma viagem...

Uma viagem,
que nem Marco Polo ousou,
mais demorada que a volta ao mundo
para mais longe de que qualquer Pioneer tenha ido,
a uma profundidade que nenhum submarino atingiu,
tão alta que os melhores alpinistas fracassariam,
numa velocidade mais rápida que a da luz e
lenta como uma lesma sonolenta,
gloriosa como as grandes expedições dos bravos conquistadores,
árida como a travessia do Saara,
turbulenta como uma guerra civil,
perigosa como o salto de Ícaro,
explosiva como a bomba de Hiroshima,
difícil como a travessia do Mar Vermelho,
predestinada como a jornada dos três Reis Magos,
incerta como estar acorrentado nos porões de um navio negreiro,
original como uma obra de Picasso,
estremecedora como um terremoto,
imprevisível como os humores de um adolescente,
cansativa como maratona,
dolorosa como o dilúvio,
a lugares tão desconhecidos
quanto a mais longínqua das estrelas...

Hoje – deseje-me boa sorte –
vou iniciar uma viagem.

Vou em direção
ao desconhecido que habita em mim,
ao íntimo de meu próprio coração,
às profundidades de minh’alma...

Vou
em busca de mim mesmo,
à procura do meu verdadeiro Eu ...

Vou conquistar as terras desbravadas de minha mente e,
um dia,
se Deus quiser,
retornarei vitorioso...

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

DOR

Fui lançado ao mar da Dor. Nele imergi. Instantaneamente, a Dor circundou-me de todos os lados. A Dor penetrou em cada poro. Quanto mais eu me debatia, na tentativa de fugir, maior se tornava a Dor.

Já não havia o meu corpo, apenas a Dor. A Dor estava em mim e eu era a Dor. Parecia que não mais havia ar pra se respirar. Imaginei que eu não conseguiria sobreviver, não suportaria tanta pressão.

Meus gritos de socorro ecoavam no vazio. Meu desespero crescia. Cada segundo equivalia a semanas de sofrimento. Parecia que todas as células de meu organismo estavam sendo espremidas ao mesmo tempo.

Minha angústia aumentava à medida que milhares de perguntas pululavam: por que eu? Por que comigo? Por que agora? Por que tão doloroso? Por que não passa? As perguntas, tal como marretas, martelavam insistente e incessantemente em minha mente, e minha Dor aumentava com isso.

Revoltado, culpei a Deus por tudo isso. Clamei e reclamei, mas resposta alguma obtive. Senti-me perdido, abandonado, esquecido, ludibriado.

Debatia-me com todas as forças, lutando contra o mar, tentando vencê-lo. Eu queria dominar a Dor, livrar-me dela. Em vão, eu desejava “voltar ao normal, ao que era antes”. Tudo o que eu conseguia era enxergar uma tristeza sem fim e sentir a Dor que havia se entranhado nas células de meu corpo, deixando o meu coração em carne viva.

Até que... num dado momento, aquele que parecia ser o meu último instante, eu abri mão da fuga, do medo, da revolta, da tentativa de racionalizar e entender.

Parei de debater-me.

Entreguei-me ao mar.

Aceitei a Dor. Recebi-a como parte da vida, como parte de mim – uma parte que também precisa ser amada.

Confiei na sabedoria da vida, nas forças que jazem, desconhecidas, nas profundezas de minh’alma. Confiei, aceitei e me entreguei. Pensei que eu iria afundar, desaparecer, cessar de existir.

Nesse mágico instante, uma Paz imensa tomou conta de mim. Já não havia mais guerra, combate ou disputa. Havia apenas o que É. E o que É, É.

Miraculosamente, embora eu ainda estivesse no mar da Dor, a Dor não mais existia. Todo o meu ser havia sido preenchido pela Presença. Já não mais havia um “eu” desejante, decisor, dominador, controlador. Havia apenas a Presença. E na Presença, tudo o mais desaparece, embora ali esteja.

Enquanto usufruía cada instante, nem me dei conta que as misteriosas correntezas do mar da Dor haviam me conduzido até a praia da Vida.

Saí do mar e me curvei diante dele, em humilde reverência e silenciosa gratidão.
29 de julho de 2009.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

ADOLESCÊNCIA - um fenômeno sociocultural

Trechos extraídos de entrevista publicada por "Presente! Revista de Educação" - editada pelo CEAP (Centro de Estudos e Assessoria Pedagógica) - ano XV, n. 4, set/nov. 2007, pag. 5 a 11.


Presente! - Quer dizer que o quê atualmente chamamos de adolescente é uma invenção nossa?

Feizi Milani - O que nós temos hoje - toda essa caracterização da adolescência como um período de rebeldia, de indefinição, de humor instável, de crise e do adolescente como o “aborrecente” - é um fenômeno cultural e ao dizer isso, não estou afirmando que não é real. A cultura não só é real como permeia todas as nossas experiências. Então, tem gente que pensa, quando eu digo que não é biológico e sim cultural, que a adolescência é fantasia da nossa imaginação. Não. Somos seres culturais. Por exemplo, há povos na África e povos nativos das Américas nos quais quando o garoto chega a uma determinada idade ou atinge uma certa altura, ou a menina tem a sua primeira menstruação, são levados a um local, passam por um ritual e, ao retornarem, são recebidos pela comunidade como homem e como mulher, já de posse de todos os direitos, prerrogativas e deveres de um adulto.

Presente! - E na nossa sociedade como vemos o adolescente, culturalmente falando?

Feizi Milani - Na nossa sociedade a adolescência tem cada vez se transformado numa coisa muito complicada e complexa, principalmente porque está sendo manipulada por interesses econômicos. Quanto mais o adolescente se rebelar contra os pais, ou for “do contra”, não importa contra o quê, quanto mais os adolescentes forem subdivididos em tribos e galeras, e, finalmente, quanto mais precocemente se iniciarem esses fenômenos e mais tardiamente se encerrarem, melhor será para os interesses econômicos da indústria do consumo, da diversão, do lazer. É exatamente isso que está sendo promovido. Então, essa história de "pré-adolescente" é uma invenção extremamente recente. Aconteceu na frente dos nossos olhos. Isso não existia há cinco anos atrás e, “de repente” meninos e meninas de oito e nove anos de idade começaram a dizer “eu sou pré-adolescente”. Ora, isso não partiu de nenhum deles em específico, isso foi induzido pela propaganda, pela mídia e por outros mecanismos e estratégias. Mas com que objetivo? Com o interesse de segmentar um novo nicho mercadológico. Então, existe o nicho das crianças pequenas, depois o das crianças maiores e agora, inventaram o pré-adolescente, sendo que, para cada um desses nichos há produtos específicos: roupas, sapatos, marcas, brinquedos, bandas musicais... . E o que é o pré-adolescente? Nada mais que uma criança que assume artificialmente os comportamentos que ela própria observa no adolescente e que, conseqüentemente, quer ter os mesmos direitos de um adolescente. É uma invenção artificialmente induzida, mas que está plenamente atingindo o seu objetivo de vender mais.

Presente! - Ao falar sobre a caracterização do adolescente, o senhor lembrou que às vezes ele é chamado de “aborrecente”. Parece que ao mesmo tempo em que o admiramos não o poupamos de crítica. Não sabemos o que fazer com ele?

Feizi Milani - Somos uma sociedade permeada por paradoxos. Somos uma sociedade enferma porque ninguém quer ser o que de fato é. A criança quer ser adolescente, o adolescente quer ser jovem, o jovem quer ser adulto e o adulto quer ser jovem. Então, o adolescente é criticado, pressionado a amadurecer por que tem que se tornar adulto, tem que assumir responsabilidades. Por outro lado, adultos e idosos querem ser jovens. A diversão deles, o seu "faz de conta" é que eles também são jovens. Ninguém quer ser velho. Na verdade, poucos querem ser o que são, aceitando a beleza, as possibilidades e as limitações de cada etapa da vida. A maioria das pessoas está tentando aparentar alguma coisa, exceto o que é, de fato. Por que o adolescente não pode simplesmente viver essa fase? Porque o adulto não pode se assumir como tal? Agora, é bom lembrar que adulto não precisa ser chato, monótono, sem criatividade, sem espontaneidade, sem alegria. Por que o idoso tem que ficar dizendo: “Nós somos os jovens da terceira idade”? Qual é o problema de ser velho? Não é o destino de todo mundo? Quer dizer, é preciso ser sortudo, para se viver o suficiente para chegar lá. Mas não, tem que existir a negação. Até as reportagens sobre idosos procuram mostrá-los indo para a farra e com um comportamento bem adolescente. De maneira alguma estou dizendo que o idoso não deva dançar, curtir, passear, namorar, mas cada um assumindo o que é. O que preocupa e angustia, ao ver essa sociedade, é essa enfermidade coletiva. Ninguém está satisfeito com o que é, ninguém aceita viver o momento presente.

Presente! - Se ninguém quer ser o que é, significa que o adolescente está sem referência, sem espelho, não é mesmo?

Feizi Milani - Exatamente. Essa geração, que agora está na adolescência e na juventude, eu a estou chamando de “sem noção” . Essas pessoas, não apenas os jovens, pois há muito adulto sem noção também, foram educadas dentro do modelo familiar da complacência, da liberalidade sem responsabilidades, da falta de limites. São pessoas que não têm noção da existência do outro, nem de seus próprios limites, não têm noção que o mundo não gira em torno do seu umbigo e não conseguem entender a necessidade de leis e normas de convívio. Pensam que todos ao seu redor estão a seu dispor e a seu serviço. Diariamente vejo pessoas assim, onde moro, no trabalho... nos gestos mais simples e em comportamentos como estacionar o carro em local proibido, como subir com o carrinho de compras do prédio e largá-lo no corredor, chegar atrasado para a aula e deixar a porta da sala aberta. Obviamente, os "sem noção" são fruto de uma educação familiar que se baseou na premissa de que os pais devem realizar todas as vontades dos filhos, de que não se pode dizer não, para que a criança não fique frustrada... Bem, essas crianças inevitavelmente crescem! Algumas se tornam adolescentes delinqüentes, outras se tornam jovens irresponsáveis e, muitas, adultos sem noção.

Presente! - O senhor trabalha com adolescentes de diferentes contextos sociais. Por exemplo, o sujeito que começou a trabalhar ainda criança também tem direito a crise de adolescência? Temos diferentes tipos de adolescência?

Feizi Milani - Ele vive uma adolescência diferente, mas a influência do materialismo e do consumismo é tão grande que ele sonha com a mesma coisa do outro que vive num condomínio de luxo. Os sonhos e as fantasias são os mesmos, inclusive as angústias. Quando converso com meninos que trabalham e passam o dia na rua, descubro que, para muitos deles, o maior sonho é ter um celular e, no caso de alguns, o fato de não ter, se transforma em angústia. Aí eu perguntei: para quê você quer ter um celular?

Presente! - É a representação dos sonhos e da angústia num objeto.

Feizi Milani - Exato. Mas até bem pouco tempo atrás, nenhum de nós tinha celular. Depois se popularizou. Para que serve um celular para quem não tem para onde ligar, ou não tem de quem receber ligação ou não tem como pagar a conta? Isso se torna uma fonte de angústia porque o reconhecimento dele como ser humano e cidadão passa pela posse de um bem de consumo. Está correto dizer que não existe "a" adolescência, mas "adolescências e juventudes", no plural, porque as experiências são completamente diferentes. Porém, no final das contas, essa cultura consumista, que só reconhece e valoriza o outro quando ostenta certos bens de consumo - verdadeiros sinais de poder aquisitivo -, permeia todas as classes econômicas e acaba afetando a todos. Só que alguns têm condições de responder a isso, ainda que se submetendo de forma acrítica, ao adquirirem esses bens e sinais, enquanto que a imensa maioria é excluída dessa possibilidade. Isso gera enormes sofrimentos.

Presente! - Não acha que a gente pode esvaziar de sentidos essa nova geração, julgando que em outros tempos era melhor?

Feizi Milani - Eu não assumo esse discurso de “no meu tempo era melhor”. Não idealizo a minha geração, mas vejo que a pressão externa aumentou muito, os mecanismos de gerar alienação foram aprimorados infinitas vezes, o poder da mídia cresceu assustadoramente. Acho que hoje está menos freqüente o adolescente ou o jovem com uma postura protagonista, de assumir uma causa, um ideal seja religioso, ecológico, social... Embora existam muitos projetos trabalhando nessa direção. Então, eu não parto da idealização de uma outra geração, nem de uma postura preconcebida diante da atual, mas venho constatando o quanto essa geração está sendo manipulada. Uma das formas de manipulação é a disseminação do fatalismo. Quanto mais pessoas acreditarem que as coisas sempre foram assim e que, conseqüentemente, sempre serão assim, menos vão se mobilizar em prol de qualquer coisa que represente uma mudança. Apagar a história, fazer com que as pessoas esqueçam a história é uma excelente estratégia de dominação.

Presente! - Esse fatalismo também chegou à escola?

Feizi Milani - O fatalismo é um tipo de infecção que mistura de pessimismo, ceticismo e impotência, e que está altamente disseminada também entre os professores. Estão se sentindo impotentes diante de toda essa situação. Só que, na verdade, os professores são aqueles que têm a maior possibilidade de desencadear alguma mudança. Não que seja fácil, absolutamente. Mas “difícil” não é a mesma coisa que “impossível”! A prova de que é possível é que em muitas escolas, apesar de tudo, existem professores que estão fazendo um excelente trabalho educativo e transformador, um trabalho que vai além da mera transmissão de conhecimento. Porém, esses professores são uma minoria. Existe uma outra minoria que não acredita em mais nada e faz questão de disseminar o vírus do fatalismo. Entre essas duas minorias, encontra-se a maioria acomodada e passiva. Essa é a realidade em todos os campos da vida humana, não apenas na escola. Se analisarmos o fenômeno da violência, veremos que há uma minoria que vive da violência e a provoca, outra que promove a paz, enquanto a maioria fica no meio se sentindo vítima, se lamuriando, se queixando e esperando uma solução mágica. Se essa maioria se engajasse, a sociedade se transformaria rapidamente. Então, a responsabilidade maior recai sobre esses que só pensam nos seus interesses pessoais, numa postura imediatista e mesquinha, e não assumem um compromisso em prol da coletividade. Quando falo desses três grupos - uma minoria que está ativamente comprometida em promover a transformação, outra minoria que está engajada em evitar qualquer transformação e uma maioria que está apática e silenciosa - lembro das palavras de Martin Luther King Jr.: “O problema não é a ação dos maus, mas a omissão dos que deviam fazer alguma coisa pelo bem”.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

E por falar de amor...

Imagine a situação: você está carente, curando feridas emocionais de relacionamentos anteriores, num longo período de solidão, em busca do amor... e, de repente, conhece uma pessoa com valores de vida alinhados aos seus, além de várias qualidades que você muito preza. Você se apaixonaria instantaneamente? Ou conseguiria se aproximar controlando cada passo racionalmente?

Bem, aconteceu comigo. Mais de uma vez. Já faz tempo... Acho que em quase todas, eu fiquei no grupo dos que se apaixonam na hora.

Inspirado por um desses encontros estremecedores, escrevi o texto abaixo. A maioria das palavras se inicia com a letra "S", tal como o nome da musa daquele momento.

Simpática Senhorita,

Senti-me sensibilizado com a sua sede de significado, seus serviços solidários e seu sonho de semear sabedoria. Saiba que em meu sangue surgem sentimentos semelhantes por segundo.

Da Sibéria ao Saara, de Santo Antônio a São Paulo, sinetes subliminares soterraram o sentido do suor e do suspiro. Suprimiram-lhes o sagrado, sujeitando-os a um sofisticado simulacro, subvertendo-os em sofismas. Substituíram a súplica sincera pela surdez, a servitude pela servidão, a simplicidade pelo simplório, a saúde pelo silicone, o social pela solidão, o século pela semana, o solene pela soberba, a sabedoria por slogans.

Sobreviveremos? Sim! O Sol sempre sobrepuja a sombra. Se nossos semblantes sufragam esse segredo, saberemos sublimar o sofrimento e socializar a satisfação.

Sutis sinais siderais são saboreados somente pelos sensíveis. Saúdo a sincronicidade que sugere a sanidade e sepulta o sofrer secreto. Na surdina, o saldo é uma sigilosa saudade que somente eu sanciono. Ao Soberano Senhor suplico socorro e segurança, e aos Serafins, serenidade. Senão, uma sísmica sacudida setentrional será sofrida silenciosamente no seio de meu sistema somático e sensorial. Sequer sonhas com o solavanco dessa síndrome.

Há solução? Sim, na sintonia socializada entre dois seres que, em sinergia, sussurram sílabas sonoras e silenciosas de sagrados sentimentos.

Se não surgir a solução, soturno serei, mas sobreviverei e saberei sobrepujar. Sim, superarei o sofrer e a sede. Serei sempre o que sou, sem simulações.

Sinceramente, Feizi

sábado, 9 de maio de 2009

Mães e filhos


Posted by PicasaAgradeço ao meu querido sogro, Ubaldino Figueirêdo, por me haver enviado a seguinte mensagem, extraída do site http://www.reflexao.com.br/. Trata-se de uma linda reflexão, muito oportuna como homenagem ao DIA DAS MÃES. Publico-a em reverência à memória de sua amada mãe, Dona Clarice, que há poucas semanas abandonou este plano da existência e partiu para as Moradas Eternas do Pai Celestial.

"Sempre soube que ela era importante para mim. Só não sabia o quanto ela era realmente valiosa e especial.

Sempre imaginei que se um dia ela me faltasse, eu sentiria sua falta. Mas nunca calculei o que sua falta verdadeiramente representaria para mim.

Sempre me disseram que amor de mãe é algo diferente, sublime, quase divino. Sempre me disseram tantas coisas a respeito desse relacionamento: mães e filhos.

Tanto disseram, mas foi pouco o que eu ouvi e entendi sobre isso. Banalizei. Não acreditei.

Até o dia em que ela se foi.

Era uma tarde de final de primavera. O vento brando soprava e em minha casa não havia a mais leve suspeita da dor que se avizinhava.

De repente, a notícia. Mas não poderia ser verdade. Não, Deus não permitiria que as mães morressem. Não assim. Não a minha. Engano meu.

Era verdade. A verdade mais cruel e mais dura que meu coração precisou encarar, enfrentar, suportar.

Ela partiu sem me dizer adeus, sem me dar mais um abraço, mais um beijo, sem me pegar no colo pela última vez, sem me dizer como fazer para prosseguir só, dali para frente ... Simplesmente partiu.

E uma ferida no meu peito se abriu. Ferida que não cicatriza, que não sara, que não passa. É a falta que ela me faz. É minha tristeza por querer seu aconchego mais uma vez, seu consolo, sua orientação segura. Querer seu cafuné antes do meu adormecer, sua voz antes do meu despertar. Sua presença silenciosa em meus momentos de angústia, sua mão amiga a me amparar e confortar. Querer outra vez ouvir seu sussurro baixinho me dizendo que tudo vai dar certo e que tudo vai acabar bem.

É uma saudade que aperta meu coração e me faz derramar lágrimas às escondidas. É uma dor de arrependimento por todas as mal-criações que fiz, pelas palavras atravessadas e rudes que lhe disse.

Arrependimento porque agora sei que mãe é mesmo alguém muito especial e porque me dou conta de que os filhos só percebem isso muito tarde. Tarde demais, como eu.

A morte é um afastamento temporário entre os seres que habitam planos diversos da vida. Embora saibamos disso é compreensível a dor que atinge aqueles que se vêem afastados de seus amores pela ocorrência da morte. Muitas vezes essa angústia decorre do arrependimento pelas condutas equivocadas que os feriram, ou que não demonstrar o verdadeiro afeto que sentíamos por aqueles que partiram.

Às vezes são as mães que partem, outras são os filhos, ou os pais, os amigos ... E tantas coisas deixam de ser ditas, de ser feitas, de ser vividas ... Pense nisso! A vida é marcada por acontecimentos inesperados que a transformam, muitas vezes, de modo irreversível.

Cuide de seus amores porque, embora eles sejam para sempre, poderão não estar sempre ao seu lado."

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Celebrando meus 20 anos de Bahia

Foi em janeiro de 1989 que vim para a Cidade da Bahia, recém-formado em Medicina. Inicialmente, a intenção era passar apenas algumas semanas. As semanas, não sei como, viraram meses... Quando me dei conta, estava apaixonado, completamente apaixonado pela Bahia. E não conseguia mais me imaginar vivendo em qualquer outro lugar do planeta.

Bahia, para mim, é um pedaço de África. Uma semente de África semeada no solo da América, onde se mesclou com índios e europeus. A Bahia traz todas essas ricas influências, mas ainda assim, para mim, é África!

Só tive o privilégio de estar no continente africano uma vez, em 1998. Passei três semanas entre a África do Sul, o Botsuana e o Zimbábue. Experiência profunda, inesquecível. Foi lá que escrevi esse poema... não, na realidade, ele brotou em minha alma. É com emoção que o compartilho, em comemoração aos meus 20 anos de Bahia.


FILHO PRÓDIGO

Mãe África,
humildemente venho ao teu encontro
desejoso, ansioso, sequioso…
será que ainda há lugar para mim em teu colo ?

Mãe África,
cresci longe de teu olhar protetor,
em outros jardins brinquei,
dormi escutando histórias outras
e por isto,
pouco sei de ti
e tu pouco conheces de mim…
será que ainda terás paciência para me ensinar ?

Mãe África,
pelo mundo o meu caminho busquei,
por terras longínquas viajei,
outros povos, culturas e línguas conheci,
só para descobrir
que eles também nasceram em teu berço
e são teus filhos
e meus irmãos…
será que ainda me aceitarás de volta ao nosso lar ?

Mãe África,
talvez não te recordes de mim,
talvez olhes para mim e não me reconheças,
talvez eu pareça muito diferente dos teus filhos que contigo vivem,
mas
minhas raízes provém de teu sagrado útero,
meu coração pulsa no mesmo ritmo de teus tambores,
minhas noites foram embaladas em teu berço carinhoso
e meus dias, preenchidos por tua alegre presença,
minha sede foi saciada por tuas graciosas fontes
e minha fome, aplacada por tua generosidade,
meus primeiros passos foram engatinhados perante ti
e as primeiras lágrimas, derramadas em teu solo…

Mãe África,
sei que
estive longe
quando mais precisaste de mim,
me fingi de surdo
quando deixavas escapar gemidos de dor,
mantive-me alienado
quando a confusão imperava em teu lar,
minha acomodação
privou-me de estar lado a lado com meus irmãos…
será que ainda me acolherás com teu abraço ?

Mãe África,
um de teus filhos pródigos
está de volta…
Por favor,
mira-o com teu olhar indulgente e compreensivo
dá-lhe tua mão quente e segura
envolve-o em teu abraço macio e confortador
embala-o em teu colo aconchegante
e… perdoa-o,
com teu coração de mãe amorosa…

Mãe África,
o teu perdão suplico
para mim
e para aqueles de teus outros filhos que,
não tendo herdado tuas virtudes,
esquecidos de que sua verdadeira terra natal és tu,
iludidos pela ignorância infantil
e inflamados pela arrogância adolescente,
voltaram para casa
não para te agradecer e glorificar,
mas te desrespeitando, pisoteando,
machucando teus filhos e filhas,
roubando tuas riquezas,
destruindo teus jardins,
explorando tua generosidade…

Mãe África,
perdoa-me.

Mãe África,
perdoa a todos nós.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

INOVE em 2009...

Para inovar em dois mil e nove, convidei MARIANA MACHADO ARAGÃO, estudante de Medicina da Bahiana, a enriquecer e embelezar este blog com dois de seus muitos encantadores poemas... Para conhecer outros textos dela, visite o seu blog: www.fotolog.terra.com.br/zabuletando

Sim, é a mesma Mariana a quem me referi em minha postagem anterior! Espero que vocês sejam tocados e inspirados por essas palavras, assim como eu o fui...

DEZ VANTAGENS

Mariana Machado Aragão

Se não tenho a vantagem de tuas pernas,
É porque já aprendi a voar.
Se não tenho a vantagem de tuas palavras,
É porque aprendi a falar com os olhos.
Se não enxergo o que tu vês,
É porque aprendi a ver de outro jeito.
Se não escuto o mesmo que você,
É porque agora escuto a mim mesmo.
Não carrego em mim teus prêmios natos,
Pois aprendi a construir em mim outras vitórias.

* * * * * * * * * *

MINHA PRECIOSA IDADE
Mariana Machado Aragão

Trago em mim a pele enrugada.
São as dobras de um passado repleto de lembranças.
As lembranças que me ensinaram a ensinar.
Trago em mim o olhar de um monge,
E seus pensamentos profundos.
Trago em mim o gosto das estradas que percorri.
Sou forte, sou muitos, sou tudo o que vivi,
E o que faltou viver.
Trago em mim uma idade que não faz sentido,
Pois, trago também o calor da mocidade.
Trago canções antigas e as novas.
Este verso em decassílabo.
Sou barroco e arcadismo,
Sou romantismo, realismo...
Sou Semana de Arte Moderna.
Trago em mim as aflições
Dos amores perdidos que deixei pelo caminho.
Mais ainda, daqueles que ainda não encontrei.
Trago as manchas que tentei me livrar,
Espalhadas pelo corpo e pelo olhar,
E aquelas que fiz questão de ter.
Trago minhas vitórias e derrotas,
Amarrotadas na pele encardida.
Estas me doem até hoje, embora ainda não saiba perder.
Trago todas as contradições,
Pois aprendi que é mais fácil morrer do que viver.
Mas, trago em mim uma mania,
Não aquelas de que reclamam tanto,
E que todos as terão,
E sim, uma mania enorme de escolher o que é difícil,
E neste caso,
Trago em mim esta mania absurda de viver!


Obrigado, Mariana... muito obrigado!