De todos os deuses, o mais
implacável é o tempo. Jamais volta atrás, é inapelável. Não pára um instante
sequer. Não admite retrocessos nem aceita antecipações. Exerce seu poder
transformador e deixa suas marcas, sem piedade. Não perdoa os que tentam
enganá-lo ou desprezam a sua autoridade. Reina absoluto e permanente,
afetando-nos a cada segundo.
Costumamos dizer que o
tempo passa, mas na realidade quem passa somos nós mesmos. E como passamos rapidamente. De simples célula-ovo nos
transformamos em recém-nascidos, num piscar de olhos já saímos da infância, nem
bem nos acostumamos com as mudanças da adolescência e já nos tornamos jovens,
antes que possamos usufruir dessa etapa ficamos adultos e logo atingimos a
terceira idade. E deste mundo passaremos para o vindouro. Enquanto nós vamos
passando, o tempo permanece inalterado e intocado.
Somos, portanto, passageiros
dessa espaçonave chamada tempo. Nós passamos por ele e ele nos leva sempre
adiante, rumo ao desconhecido. Apesar de ser implacável no exercício dos
poderes que lhe foram concedidos, o deus tempo respeita as Leis do Universo e
não transgride os limites que lhe são impostos. Por exemplo, o tempo não tem o
poder de decidir para onde vai nos conduzir. Essa escolha é pessoal, íntima,
intransferível.
Cabe a cada um escolher a sua destinação e, a nave tempo
seguirá o rumo específico para se chegar àquela meta. O tempo não define o
destino, apenas nos conduz para onde almejamos. O tempo respeita a nossa
liberdade de escolha e não questiona se a rota é certa ou errada, se a viagem
será boa ou ruim.
Algumas pessoas passam a vida inteira adiando para amanhã a
sua decisão. Outras, não desejam sair de onde se encontram. Ambas, ao
concluírem a jornada, descobrirão que estão exatamente no quilômetro zero.
Talvez nesse momento se arrependam, mas aí, o tempo demonstra o seu absolutismo
e não permite viagens extras ou caronas. Afinal, quem chega ao fim de linha, ao
ponto final, tem que descer do ônibus. É assim que funciona.
Escolher é um direito
mas também um dever. Direito porque
ninguém pode lhe obrigar a fazê-lo e por ser um privilégio intransferível.
Dever porque tudo o que existe tem um princípio e um fim, e unindo estes dois
pontos há que haver uma linha, um sentido. O princípio é pré-determinado, o fim
é uma escolha que resulta da direção empregada à linha da vida. Se não há uma
escolha consciente, não há avanço na dimensão interna do ser. Isso significa
que, o fim incidirá no mesmo ponto do princípio. Nesse domínio, o do espírito,
é como se essa vida se resumisse a um único ponto, ao invés de uma linha.
É, portanto, o dever de definir um rumo para que a
espaçonave “Sua Vida” possa decolar. Dever de assumir um compromisso consigo
mesmo, de se posicionar perante a existência, de ter consciência de quem se é e
do que se almeja. Dever de deixar o mundo um pouco melhor do que quando nele
chegamos.
Um comentário:
E quando eu tiver saído
Para fora do teu círculo
Tempo tempo tempo tempo
Não serei nem terás sido
http://www.youtube.com/watch?v=jHTcEj_Am2E&feature=related
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