sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

O Deus Tempo



De todos os deuses, o mais implacável é o tempo. Jamais volta atrás, é inapelável. Não pára um instante sequer. Não admite retrocessos nem aceita antecipações. Exerce seu poder transformador e deixa suas marcas, sem piedade. Não perdoa os que tentam enganá-lo ou desprezam a sua autoridade. Reina absoluto e permanente, afetando-nos a cada segundo.

Costumamos dizer que o tempo passa, mas na realidade quem passa  somos nós mesmos. E como passamos rapidamente. De simples célula-ovo nos transformamos em recém-nascidos, num piscar de olhos já saímos da infância, nem bem nos acostumamos com as mudanças da adolescência e já nos tornamos jovens, antes que possamos usufruir dessa etapa ficamos adultos e logo atingimos a terceira idade. E deste mundo passaremos para o vindouro. Enquanto nós vamos passando, o tempo permanece inalterado e intocado.  

Somos, portanto, passageiros dessa espaçonave chamada tempo. Nós passamos por ele e ele nos leva sempre adiante, rumo ao desconhecido. Apesar de ser implacável no exercício dos poderes que lhe foram concedidos, o deus tempo respeita as Leis do Universo e não transgride os limites que lhe são impostos. Por exemplo, o tempo não tem o poder de decidir para onde vai nos conduzir. Essa escolha é pessoal, íntima, intransferível.

Cabe a cada um escolher a sua destinação e, a nave tempo seguirá o rumo específico para se chegar àquela meta. O tempo não define o destino, apenas nos conduz para onde almejamos. O tempo respeita a nossa liberdade de escolha e não questiona se a rota é certa ou errada, se a viagem será boa ou ruim.   

Algumas pessoas passam a vida inteira adiando para amanhã a sua decisão. Outras, não desejam sair de onde se encontram. Ambas, ao concluírem a jornada, descobrirão que estão exatamente no quilômetro zero. Talvez nesse momento se arrependam, mas aí, o tempo demonstra o seu absolutismo e não permite viagens extras ou caronas. Afinal, quem chega ao fim de linha, ao ponto final, tem que descer do ônibus. É assim que funciona.  

Escolher é um direito mas também um dever. Direito porque ninguém pode lhe obrigar a fazê-lo e por ser um privilégio intransferível. Dever porque tudo o que existe tem um princípio e um fim, e unindo estes dois pontos há que haver uma linha, um sentido. O princípio é pré-determinado, o fim é uma escolha que resulta da direção empregada à linha da vida. Se não há uma escolha consciente, não há avanço na dimensão interna do ser. Isso significa que, o fim incidirá no mesmo ponto do princípio. Nesse domínio, o do espírito, é como se essa vida se resumisse a um único ponto, ao invés de uma linha.  

É, portanto, o dever de definir um rumo para que a espaçonave “Sua Vida” possa decolar. Dever de assumir um compromisso consigo mesmo, de se posicionar perante a existência, de ter consciência de quem se é e do que se almeja. Dever de deixar o mundo um pouco melhor do que quando nele chegamos.  

Um comentário:

André Kano disse...

E quando eu tiver saído
Para fora do teu círculo
Tempo tempo tempo tempo
Não serei nem terás sido

http://www.youtube.com/watch?v=jHTcEj_Am2E&feature=related