segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Educação para o mercado de trabalho

Toda vez que a economia brasileira cresce em ritmo mais acelerado, há uma reclamação comum às empresas: faltam profissionais preparados para preencher as vagas existentes. A formação oferecida pelo Ensino Médio e pela Universidade não contemplaria as necessidades do mercado de trabalho. Muitos defendem, então, que haja ênfase absoluta em conhecimentos e técnicas requeridos para o dia a dia do trabalho. Ou seja, que a formação acadêmica seja definida pelos ditames e demandas do mercado..

Não nos esqueçamos, contudo, que a qualidade profissional de qualquer trabalhador depende diretamente de suas qualidades como ser humano. Ninguém se torna um profissional sem antes se constituir como ser humano. Esse ser humano pode se caracterizar por honestidade e integridade, por exemplo, ou pela ausência dessas qualidades.

Qual é o empresário interessado em contratar um profissional mentiroso ou desonesto? Alguém já calculou quantos recursos financeiros já foram queimados por profissionais cujo caráter não era fundamentado em valores éticos? Pensemos nos prejuízos causados pelas variadas formas de corrupção, tanto em órgãos governamentais quanto no setor privado, pela venda de informações comerciais ou segredos industriais, e outras escolhas moralmente equivocadas... Tudo isso foi feito por profissionais altamente competentes em suas especialidades, muitos dos quais oriundos das melhores escolas!

Essa opção entre “capacitação técnica” e “formação humana e ética” é ilusória, porque não são excludentes. Ao contrário, são complementares, e uma exige a outra. Capacitação voltada somente a habilidades técnicas e conhecimentos científicos poderá solucionar a demanda por mão de obra em curto prazo, mas irá desencadear consequências negativas por muito tempo. Por outro lado, que sentido faria prover uma formação humana e ética desconectada das necessidades concretas da sociedade?

Logo, por mais difícil que pareça, temos que educar a criança, o adolescente, o jovem para ser um profissional, um eleitor, um contribuinte e um consumidor consciente. Em suma, para ser uma pessoa que trabalha, que exerce a cidadania, que se dedica à família, aos amigos e ao bem comumda sociedade.

Não podemos retroagir ao ambiente retratado, brilhantemente pelo genial Charles Chaplin no filme “Tempos Modernos”. O ser humano não deve ser reduzido à “mão de obra”. Ninguém, exclusivamente, profissional. Somos pessoas com múltiplas dimensões e potencialidades, e a educação pode e deve nos ajudar a sermos melhores e plenos, em todos os sentidos.

3 comentários:

André Kano disse...

Caro Feizi,
Não sinto, muito embora pareça algo óbvio, que as empresas valorizem com o mesmo peso a capacitação humana e a capacitação teórico/técnica. Em processos seletivos que encontramos em todos os cantos, os testes e fases tocam no aspecto humano apenas para saber se o pretenso novo funcionário não é um serial killer e se possui alguma habilidade interpessoal para lidar com o mínimo que seu exercício profissional exigirá, como por exemplo, o "trabalho em equipe" o que, na maior parte das organizações se resume a "executar bem o que a equipe de chefes determina". Nunca vi um process seletivo interpelar o candidato sobre qualificações humanas que realmente determinam caráter. Aliás, não se fala mais em caráter. Se fala em ser ou não ser "do bem", que é nada mais do que uma expressão do individualismo comum por aí, em que vemos repitidas a máxima de "eu pago meus impostos e não faço mal a ninguém", no sentido de, "cumpro minha parte formal burocrática com a sociedade e não agrido física ou verbalmente ninguém que não faça isso comigo". Diante desse quadro de coisas que mentirosos e pessoas com integridade duvidosa são contratados e assumem, muitas vezes, cargos de confiança. Porque de fato o discurso corporativo é cada vez mais o de "essas coisas são pessoais, o que importa é que esse funcionário dá resultados" e, obviamente, resultados significa lucro. Empresas são contratos sociais e nós não poderíamos esperar que empresas fossem diferentes do que experimentamos da própria sociedade de onde elas são formadas. Se uma é termômetro da outra, parece-me claro que uma confirma e reforça a outra. Abraço

Anônimo disse...

Caro professor. Brilhante artigo e de fato a questão da ética nos profissionais é importantíssima. Hoje em dia, infelizmente, muitos fabricam curriculuns e incluem cursos que nunca fizeram e experiencias que nunca tiveram. Se estes profissionais ocupam uma vaga estratégica, é ainda pior o resultado para as empresas. Ética e transparência não são diferenciais, são pré-requisitos.

Anônimo disse...

Concordo professor.

As matérias - tanto a nível das escolas, como das universidades - precisam passar por melhores avaliações com a finalidade de formar pessoas mais éticas e voltadas para o social.

O que se exalta hoje são os constituintes do átomo e os afluentes do rio Amazonas (nas escolas); a estrutura molecular da dopamina e os fatores ativadores das plaquetas(nas universidades).

Acredito que a nossa sociedade só vai para frente quando a mudança iniciar nesse ponto: educação voltado para princípios éticos.

Abraço.