Uma versão levemente reduzida do artigo a seguir foi publicada pelo JORNAL DA TARDE, de São Paulo, na seção Opinião (pag. 2), em sua edição de 25/09/2010.
Quem de nós fica tranquilo quando um filho ou filha sai à noite, em busca de diversão nas baladas da juventude?
O medo da violência, ironicamente, leva muitos a clamarem por mais violência para aplacá-la. Como se bombeiros usassem gasolina na luta contra um incêndio.
É o que ocorre quando se opta pela repressão como único (e discutível) antídoto aos crimes que alguns programas sensacionalistas fazem questão de alardear com máximo estardalhaço.
Outros brandem as questões estruturais como justificativa para os crimes. Ou seja, só teremos uma sociedade mais pacífica se e somente se todos os problemas estruturais como fome, falta de saúde e de educação forem solucionados.
Tal crença, contudo, conduz ao imobilismo, à desistência de se encontrar alternativas para a violência. Se formos esperar que toda a estrutura social seja reformada, para só depois agir, estaremos perdendo inúmeras oportunidades de realizar pequenas ações e intervenções pontuais que, somadas, podem resultar em significativas melhorias.
A cultura da paz parece-me mais apropriada, exequível e eficaz. Ela nos convida a aproveitar cada espaço – sala de aula, bar, condomínio, escritório, praça – como um fórum permanente de reflexão e de busca de opções para a construção da paz.
Mas isto funciona mesmo, no dia a dia, em que motoristas param seus carros para brigar porque um teria fechado o outro?
Sim, porque o verdadeiro antídoto contra a violência é a paz. Não há outro. Paz entendida como respeito, diálogo, empatia e participação cidadã. Até porque a forma mais disseminada e frequente de violência é a cometida entre familiares e parceiros íntimos. Logo, parte considerável dos crimes não é cometida por profissionais do submundo, e sim por pessoas comuns, respeitáveis cidadãos que, em determinado momento, perdem a cabeça por situações corriqueiras – uma discussão doméstica sem sentido ou uma provocação na rua.
Um dos melhores lugares para se fomentar os valores da paz é a sala de aula. Para isso, teremos que tornar o ensino cada vez mais atraente e com conteúdo significativo, sintonizado com as necessidades do mundo real e com o mundo virtual das redes sociais.
Nas regiões de baixa renda, é necessário que as escolas reconheçam as condições de vida dos estudantes, considerando situações como a inexistência de mesas, cadeiras e de ambiente para uma prosaica lição de casa. Se não há moradia digna, como exigir que o aluno estude no lar? Até que ponto os cursos de Pedagogia preparam os futuros educadores para lidar com essa realidade e compreender as necessidades de grande parcela dos educandos?
Parecem ser detalhes, mas fazem diferença. Atividades artísticas e esportivas, estudos ao ar livre, jogos, realização de ações sociais na comunidade e uso pedagógico da internet podem mudar a visão que os alunos têm da educação. E, com isso, abrir espaço para a discussão e vivência de temas como a pacificação de corações e mentes.
Não se trata de um movimento rápido, imediatista, com resultados ao final do expediente. É uma mudança cultural, uma revolução real, que trará frutos em médio prazo, pela mudança de atitudes individuais e pela construção coletiva de uma sociedade mais justa, solidária e inclusiva.
Temos que começar logo. Estimular os professores que já ousam introduzir elementos da cultura de paz em suas classes. Não há investimento mais relevante hoje – fortalecer a escola, o professor, o estudante e sua família. Impedir que as comportas da violência transbordem e criar um futuro do qual possamos nos orgulhar.
Mostrar às crianças e jovens que há caminhos, sim, para a solução de conflitos - longe da agressão e criminalidade.
Apontar saídas para a pobreza e exclusão a partir do conhecimento, do trabalho, dos valores humanos e da cooperação social.
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