domingo, 19 de junho de 2011

Momento Mágico

Herdei o amor à música clássica de meu pai. Melhor dizendo, aprendi a amar a música clássica com meu pai. Ele comprou uma vitrola e vários discos (de vinil, é claro) especialmente para que meu irmão e eu tivéssemos a chance de ouvir os clássicos. Assim como papai, sou apaixonado pela 5ª e 9ª Sinfonias de Beethoven.

Entre os CD’s e DVD’s que coloco para minha filha Kamili, vários trazem músicas clássicas. Essa escolha é intencional. Não se pode amar algo que não se conhece. O primeiro passo é entrar em contato, ouvir algumas vezes, até conhecer. Do conhecimento, brota o amor. É um processo de sensibilização: tornar-se sensível, receptivo. Em outras palavras, ser tocado pela música.

Hoje, Kamili pediu à mãe para ouvir a música do “tchi-bom-bom”. Para nossa surpresa e satisfação, ela se referia à Quinta Sinfonia de Beethoven – mais especificamente ao famoso “tchan-tchan-tchan-tchan”...

Minha esposa colocou o CD com uma versão da Sinfonia para bebês, e Kamili acompanhou a música balançando a cabeça. Em seguida, coloquei um DVD com a apresentação da Filarmônica de Berlim sob a regência de Herbert von Karajan. Eu precisava me barbear e ia deixá-la assistindo sozinha, mas me dei conta que para instilar o amor à música naquele coraçãozinho, eu teria que estar junto dela, apreciando, valorizando, compartilhando.

Assim, deixei as demais preocupações de lado, sentei-me no sofá e coloquei Kamili em meu colo para assistirmos ao DVD. Em alguns momentos, apreciávamos em silêncio; em outros, eu dava explicações (esse é o maestro, ele faz gestos para cada músico saber o momento certo de tocar), apresentava os instrumentos (veja o clarinete, esses são os violinos), explicitava os movimentos da música (ouça como está baixinha, agora todos vão tocar juntos, com força), cantarolava a melodia, e expressava o meu prazer com a beleza da composição.

Aninhada em meu colo, Kamili assistia a tudo em um silêncio comovente e um olhar compenetrado e reverente. Comungávamos juntos, de uma obra artística eterna e universal. Nesse instante, lembrei-me de meu Velho. Senti saudades dele. Agradeci a ele por essa nobre herança e por essa educação dos sentidos e sentimentos. Senti meu pai presente, compartilhando conosco daquele momento mágico em que o amor à música clássica era transmitido de uma geração à seguinte.

É provável que, no futuro, Kamili não se recorde desses breves minutos mas, para mim, ficarão eternizados como um precioso Momento Mágico.